quinta-feira, 12 de abril de 2018

Vacina contra a Raiva

Todas as vacinas contra a raiva, de uso humano, são inativadas, ou seja NÃO APRESENTAM vírus vivos. A seguir descreveremos as principais vacinas de uso humano.

1-Vacina produzida em cérebro de camundongos do tipo Fuenzalida & Palácios modificada
A vacina anti-rábica utilizada de rotina no Brasil é a vacina Fuenzalida & Palácios modificada. É produzida em cérebro de camundongos recém-nascidos, inoculados com a cepa Pasteur de vírus fixo. Posteriormente os vírus são inativados pela betapropiolactona, de acordo com a técnica de Fuenzalida & Palácios. Tem alto poder antigênico e baixa concentração de substância nervosa (cerca de 2%), ficando assim bastante reduzidas as reações neurológicas pós-vacinais. A aplicação pode ser feita pelas vias subcutânea ou intramuscular, na região do deltóide. Em crianças menores de dois anos, pode ser administrada na região do músculo vasto lateral da coxa. A região glútea não deve ser utilizada, pois pode ocorrer falha no tratamento. A dose é de 1 ml, independentemente da idade, sexo ou peso do paciente. A conservação da vacina deve ser feita entre +2 e +8ºC.

Os acidentes pós-vacinais caracterizam-se por reações locais do tipo dor, hiperemia e prurido no local da injeção. Não se deve interromper o tratamento uma vez que estas alterações regridem com o uso de anti-histamínicos comuns.

As reações neurológicas são raras, porém as mais freqüentes são mielites, meningites, meningoencefalites, radiculites, encefalites e a polirradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória aguda ou síndrome de Guillain-Barré. Estas complicações são relativamente freqüentes quando se utiliza a vacina preparada de acordo com a técnica de Fuenzalida & Palácios. A terapêutica destes acidentes deve ser sintomática e o emprego de corticosteróides (quando utilizados) deve ser feita com cautela, uma vez que o bloqueio sobre o sistema reticuloendotelial poderá facilitar a instalação da raiva.

A incidência de manifestações neurológicas associadas à vacina, citadas na literatura, é de um caso para cada 8.000 tratamentos. No Estado de São Paulo, em 1997, foram realizados aproximadamente 65.000 tratamentos e foram notificados 17 casos suspeitos de manifestações neurológicas, associados ao uso da vacina Fuenzalida & Palácios. Oito deles foram confirmados como Síndrome de Guillain-Barré, sendo que um evoluiu para o óbito. Em 1998, para um número semelhante de tratamentos, novamente houve um caso que evoluiu para o óbito. A substituição da vacina por outra produzida em cultivo celular ou em embrião de pato somente é necessária quando ocorrerem manifestações intensas ou quando os sintomas se intensificarem com as doses subseqüentes.

Entre as vacinas produzidas em cultura celular e em embrião de pato podemos citar:

2-Vacina produzida em cultura de células diplóides humanas (human diploid cell vaccine – HDCV)
Desde a década de 1950, são pesquisados outros substratos para a replicação viral, visando à redução dos eventos adversos, principalmente os neurológicos. Na década de 1960, o Wistar Institute, na Filadélfia, desenvolveu a primeira vacina em cultura de células diplóides humanas, liberada para uso em 1976. A vacina é produzida com a cepa Pitman-Moore e os vírus são inativados pela betapropiolactona. A potência mínima requerida, 2,5 UI por dose, é maior que a da Fuenzalida & Palácios modificada (1,0 UI por dose), devido à maior concentração viral, obtida por ultracentrifugação. Cada dose contém, também, 5% de albumina humana, fenolsulfonftaleína e sulfato de neomicina (< 150 µg). A apresentação é na forma liofilizada e a reconstituição é feita com água estéril.

A vacina é bem tolerada. As manifestações adversas relatadas com maior freqüência são reação local, febre, mal estar, náuseas e cefaléia. Não há relato de óbitos associados ao seu uso.

A incidência de reações neurológicas temporalmente associadas a esta vacina, de acordo com a literatura científica, é baixa. Nos EUA, a taxa encontrada é de 1 para cada 150.000 pacientes tratados.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), até junho de 1990 haviam sido relatados seis casos de reações neurológicas temporalmente associadas à vacina. Em cinco foram registrados quadros de fraqueza ou parestesia, sendo que em um dos pacientes ocorreu déficit muscular permanente do músculo deltóide. O sexto paciente apresentou quadro neurológico semelhante ao de esclerose múltipla. A incidência de manifestações neurológicas, considerando-se todos estes casos como realmente provocados pela vacina, é de cerca de 1 para cada 500.000 pacientes tratados.

A incidência de reações alérgicas nos EUA, entre 1980 e 1984, foi de 11 casos para 10.000 pacientes tratados. As reações variaram de urticária a anafilaxia e ocorreram principalmente após doses de reforço; nove casos foram de hipersensibilidade do tipo I (1:10.000), 87 de hipersensibilidade retardada do tipo III (9:10.000) e 12 de reação alérgica indeterminada (1:10.000). A maioria dos pacientes não necessitou internação hospitalar. O fator limitante para o uso desta vacina, em larga escala, é o preço. Por isso, novos substratos foram empregados nas décadas seguintes, visando a produção de vacinas com menor custo e com a mesma segurança e eficácia da HDCV.

3-Vacina purificada produzida em cultura de células Vero (purified Vero cell vaccine – PVCV)
Substrato desenvolvido a partir do rim de macacos verdes Africanos, inicialmente utilizado para a produção de vacinas contra a poliomielite. A vacina é semelhante à HDCV; é produzida com a cepa Pitman-Moore, inativada por betapropiolactona e concentrada por ultracentrifugação. A potência mínima requerida também é 2,5 UI por dose. A resposta a esta vacina e a incidência de reações adversas são semelhantes às da HDCV.

4-Vacina purificada produzida em cultura de células de embrião de galinha (purified chich-embryo cell vaccine - PCEV)
É preparada com a cepa Flury LEP-C25 e desenvolvida em fibroblastos de embrião de galinha. A eficácia e a segurança são semelhantes às da HDCV. Os vírus são concentrados por ultracentrifugação, inativados por betapropiolactona e a potência mínima requerida é 2,5 UI por dose. A vacina contém albumina humana e traços de neomicina, clortetraciclina e anfotericina B.

5-Vacina purificada produzida em embrião de pato (purified duck-embryo vaccine – PDEV)
É produzida com a cepa Pitman-Moore, inativada pela betapropiolactona e concentrada por ultracentrifugação. O vírus é cultivado em ovos embrionados e não em cultura celular. É produzida na Suíça; a potência mínima requerida é 2,5 UI por dose; causa maior incidência de eventos adversos, embora moderados, quando comparada com a HDCV.

No Brasil, vacinas produzidas em cultura celular ou em embrião de pato estão disponíveis na rede pública de saúde, em Centros de Imunobiológicos Especiais, para pacientes imunodeprimidos e para os que apresentam eventos adversos graves à vacina Fuenzalida & Palácios modificada.

6-Conservação, dose e via de administração das vacinas produzidas em cultura celular e em embrião de pato.
Conservação: Devem ser conservadas permanentemente sob refrigeração, entre +2ºC e +8ºC.

Doses e vias de administração: A dose destas vacinas depende do laboratório produtor. Em geral, a dose indicada para esquema de pré ou pós-exposição, para uso pela via intramuscular, é 0,5 ml (PVCV) ou 1,0 ml (HDCV, PCEV, PDEV).

Quando utilizadas em esquema de pré-exposição, as vacinas HDCV, PVCV e PCEV (mas não a PDEV) também podem ser administradas pela via intradérmica na dose de 0,1 ml. Esta opção foi testada porque representa uma economia considerável, tendo sido aprovada pelo Comitê de Peritos em Raiva da OMS.

O frasco aberto deve ser utilizado no máximo em 8 horas. As doses não utilizadas nesse período devem ser desprezadas, por isso é aconselhável o agendamento das pessoas que devem receber o esquema pré-exposição pela via intradérmica.

Alguns países também testaram e aprovaram o uso da via intradérmica para tratamentos pós-exposição. Porém, até o momento, não existe consenso sobre este assunto. O Comitê de Peritos em Raiva da OMS não recomenda o uso generalizado de esquemas que utilizam a via intradérmica para o tratamento pós-exposição por considerar que ainda são necessários novos estudos para definir este ponto.

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